X. A temperatura e a vida dos animais marinhos ectotérmicos.

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Animais ectotérmicos incluem praticamente todos os animais viventes, exceto as aves e os mamíferos. São conhecidos como de sangue frio por não serem capazes de controlar a temperatura corpórea ou, pelo menos, não ao ponto de mantê-la sempre constante. A temperatura do corpo acompanha as variações das do ambiente, o que parece muito estranho para nós, principalmente quando pensamos na fauna de regiões frias, como as de altas latitudes e as do mar profundo.

Os pesquisadores há muito tempo se interessam em conhecer os mecanismos que permitem aos animais marinhos viverem em águas frias sem congelarem e manterem-se ativos. De fato, se pensarmos um pouco, a temperatura hoje não deve representar um grande problema para os animais marinhos que vivem em águas antárticas ou em outras regiões que nos parecem inóspitas. Afinal, se eles estão lá, vivos e se multiplicando, é porque eles estão no lugar certo.

O desafio é compreender quais são as adaptações específicas para que eles tenham sucesso naquele determinado ambiente. Para um animal marinho ectotérmico tipicamente antártico, se ele pudesse pensar, ele acharia impensável viver no calor, e não no frio. A temperatura da água do mar nas regiões antárticas propriamente ditas varia muito pouco, sendo que as mínimas estão em torno de -1,9°C e as máximas em torno de 2,5°C, podendo chegar a um pouco mais do que isso nas regiões rasas em dias ensolarados. Mesmo no inverno, a água do mar não pode descer abaixo da temperatura mínima sem solidificar e, no verão, as condições ambientais mantém a água relativamente fria. Nas regiões costeiras, a temperatura do ar, no inverno, pode descer abaixo dos -20°C e assim congelar a água do mar em contato com a atmosfera.

Como a água congelada é menos densa do que a líquida, a camada de gelo permanece na superfície durante o inverno e ajuda a manter a temperatura da água abaixo dela mais elevada do que a do ar. No verão, a temperatura do ar das regiões costeiras pode subir bastante, e chegar a cerca de 15°C, em dias “muito quentes”, pelo menos durante um intervalo curto de tempo. Como a temperatura da água varia muito mais lentamente, não há tempo suficiente para a água acompanhar as variações da temperatura do ar, permanecendo sempre fria.

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Fig. 1 – Mesmo no verão as águas do Oceano Austral são frias. Foto: Gabriel Monteiro.

Então, considerando-se toda a variação que normalmente ocorre durante o ano, se fizermos uma comparação conosco, seria como se vivêssemos sempre em um ambiente entre 20°C e 25°C. A temperatura, durante a evolução, foi um dos fatores determinantes para selecionar quais são os organismos que podem ou não viver ali, mas depois disso ela não deve representar mais um problema direto muito sério e não deve ter efeitos dramáticos sobre os processos vitais e as variações populacionais dos animais ectotérmicos que vivem lá hoje em dia. Para tanto, é claro que esses animais devem ter uma série de diferenças em comparação aos que vivem em locais mais quentes.

Chamam muito a atenção dos especialistas os mecanismos que servem para evitar o congelamento dos líquidos corpóreos. Como era de se esperar, os animais ectotérmicos apresentam adaptações em todos os níveis de organização biológica, desde as moleculares até as de maior escala como as morfológicas, fisiológicas e ecológicas. Em outros artigos, examinaremos algumas delas com alguns detalhes.

 

Autores: Arthur José da Silva Rocha; Maria José de A. C. R. Passos; Gabriel Monteiro; Prof. Dr. Phan Van Ngan
Coordenador: Prof. Dr. Vicente Gomes

 

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