Lego desiste de adotar plástico reciclado em seus brinquedos

Fonte: Revista Veja

Gestor afirma que medida aumentaria pegada de carbono da empresa

LEGO - Sustentabilidade: empresa volta atrás em medida para adotar plástico reciclável em seus brinquedos (Anggi Dharma Prasetya/Getty Images)

Há dois anos, a Lego, a maior fabricante de brinquedos do mundo, anunciou que implementaria um plano ambicioso para substituir o plástico das suas peças por uma alternativa feita com politereftalato de etileno (PET) reciclado. Agora, no entanto, a empresa voltou atrás e afirmou que continuará procurando um substituto mais ecológico. De acordo com Niels Christiansen, chefe-executivo do grupo dinamarquês, em entrevista ao Financial Times, a mudança para o material reciclado aumentaria a pegada de carbono da Lego. O plástico reciclado tinha sido escolhido porque, com uma garrafa de 1 litro feita com PET, seria possível produzir até 10 peças clássicas do brinquedo de montar. Contudo, a fabricação exigiria mais etapas, aumentando o gasto de energia e impondo uma adaptação dos equipamentos, o que aumentaria indiretamente o nível de emissões.

A empresa produz bilhões de peças anualmente e, por isso, desde 2021, busca alternativas ambientalmente sustentáveis para serem adotadas até 2032. As peças menores e mais flexíveis já foram substituídas por um bioplástico, mas o time de pesquisa continua buscando um material que possa ser utilizado nas peças maiores sem alterar as características qualitativas dos brinquedos. Um pedra no sapato Os plásticos, nome genérico dado a uma classe de polímeros sintéticos que são resistentes, flexíveis e duráveis, ganharam popularidade entre o final do século XIX e meados do século XX. Eles foram celebrados pela indústria por serem baratos e versáteis, mas na década de 1950 essa imagem começou a mudar. Nessa época, além dos acidentes frequentes com crianças sendo sufocadas em sacolas plásticas, os movimentos ambientais começaram a ganhar força. A maior parte dos plásticos tem o petróleo como matéria-prima, e isso, por si só, já o tornaria pouco sustentável. Mas existe mais uma questão: na natureza, esses produtos, que até pouco tempo atrás eram inexistentes, podem demorar entre um século e um milênio para se decompor, o que os torna um grande poluente – em especial nos mares, onde boa parte desse lixo vai parar.

Ambientalistas em todo o mundo lutam para que esse produto seja reciclado, o que resolveria uma grande parte do problema, mas não é o que acontece. Em todo o mundo, apenas 9% do plástico produzido é reciclado – no Brasil esse número não passa dos 25%. Isso acontece porque existe uma dificuldade logística de recuperar esses rejeitos e também porque o produto reciclado perde parte das suas características originais. “É possível encontrar esse tipo de resíduo até em regiões muito remotas do oceano, onde há pouca atividade humana, o que torna esse um problema global e onipresente”, afirma Alexander Turra, professor e pesquisador do Instituto de Oceanografia da Universidade de São Paulo (USP). “Devido a essa característica, uma vez que esse material entre no mar, torna-se muito difícil de retirar, ele fica lá para sempre.” Para tentar resolver esse problema, existem duas grandes frentes científicas. A primeira delas busca aumentar a eficiência do processo de reciclagem, através, principalmente, da digestão química e biotecnológica. A segunda tem como objetivo buscar plásticos biodegradáveis e de origens não fósseis – um relatório divulgado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), nesta sexta-feira, 29, analisou algum deles, e mostrou que há esperança nessa área. Há, de acordo com eles, pelo menos cinco alternativas biodegradáveis que poderiam ser completamente decompostas em um período de um ano.

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