Maior consumo de pescado pode beneficiar a saúde da população e a economia, dizem pesquisadores

Fonte: Agência FAPESP 

Em parceria com a iniciativa privada e órgãos governamentais, cientistas da USP, do Instituto de Pesca e da UMC pretendem fomentar a produção e o consumo de alimentos de origem aquática no país (foto: Monika Schröder/Pixabay)

O alto valor nutricional e o teor reduzido de gordura fazem do pescado um alimento estratégico para combater dois grandes problemas de saúde pública: a má nutrição e a obesidade. Porém, no Brasil, a produção e o consumo de peixes, crustáceos, moluscos e demais víveres de origem aquática ainda são pequenos e, segundo especialistas, estão bem aquém do potencial do país.

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesca – vinculado à Agência Paulista de Tecnologias do Agronegócio (APTA) –, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) pretendem contribuir para a transformação desse panorama nos próximos anos por meio de um projeto de pesquisa aplicada que será desenvolvido em parceria com empresas brasileiras, norte-americanas e europeias do setor de pescado, além de órgãos governamentais. A iniciativa é apoiada pela FAPESP no âmbito do programa Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs).

O investimento total previsto para o período, somando todas as contrapartidas, infraestrutura e salários, é de aproximadamente R$ 23,8 milhões. A expectativa do grupo é que os resultados se traduzam em benefícios tanto para a saúde da população como para a economia. Hoje o país é o 16º produtor de pescado (via criação) do mundo e o terceiro maior do Ocidente. No entanto, cerca de 30% dos produtos de origem aquática consumidos pelos brasileiros ainda são importados.

“O Brasil é um país de agronegócio e pode se tornar tão grande na produção de pescado como é hoje em relação a soja, milho, algodão, café, laranja, carne de frango ou de boi. Temos condições de crescer e atender tanto o mercado interno como o externo. Estima-se que a necessidade de alimentos no mundo possa dobrar até 2050 e nosso país pode se tornar uma potência na aquicultura”, afirma Daniel Lemos, professor do Instituto Oceanográfico (IO-USP) e coordenador do projeto.

Na avaliação do pesquisador, para fomentar o consumo de pescado entre os brasileiros será preciso atuar em pelo menos três vertentes: reduzir o custo dos produtos, facilitar o acesso e modificar o hábito alimentar, ressaltando as vantagens nutricionais que os alimentos de origem aquática apresentam em relação às carnes vermelhas e, principalmente, às fast-foods.

Um dos primeiros passos nesse sentido será estudar o perfil de consumo da população no Estado de São Paulo. Após identificar as espécies de pescado mais consumidas, os pesquisadores pretendem analisar amostras representativas para verificar o perfil de nutrientes. Com base nessas informações, buscarão entender como as práticas de criação afetam o conteúdo nutricional dessas espécies e testar estratégias de fortificação.

“Sabemos que peixes de água fria como o salmão são, de modo geral, mais ricos em ácidos graxos de cadeia longa [ômega-3]. Mas essa é uma característica que podemos manipular durante o processo de criação, acrescentando determinados compostos naturais à ração dada aos animais, por exemplo. Também pretendemos aplicar técnicas de marcadores genéticos para selecionar características que tornem o pescado ainda mais nutritivo”, explica Lemos.

Para baratear a produção, uma das estratégias propostas é estimular o aproveitamento de resíduos que hoje são desperdiçados ou usados em produtos de baixo valor agregado, como a farinha de peixe para alimentação animal.

“Um dos alimentos de origem aquática mais consumidos no país hoje, principalmente pela população de renda mais alta, é o filé de tilápia, que representa cerca de 30% do peixe. O restante do corpo do animal pode ser tão nutritivo quanto o filé e ser usado na fabricação de almôndegas, hambúrgueres e defumados, por exemplo. Isso pode fazer o custo total da produção diminuir”, explica Lemos.

Disseminação do conhecimento

Todas as informações geradas durante o desenvolvimento do projeto serão reunidas em uma plataforma digital de acesso aberto. O grupo conta com um núcleo de comunicação, que será responsável por produzir newsletters e disseminar informações baseadas em ciência nas redes sociais e websites. Os resultados do projeto também serão expostos no Museu da Pesca, vinculado ao Instituto da Pesca, em Santos.

“Hoje o brasileiro come relativamente pouco pescado e acreditamos que o aumento no consumo pode vir associado à melhoria da saúde. O Estado de São Paulo já possui ativos de pesquisa capazes de contribuir para a solução desse problema e o edital da FAPESP representa uma oportunidade de catalisar esforços dos diversos setores interessados”, diz Lemos. “A história do frango – que antes tinha custo elevado e com investimento tornou-se a principal proteína consumida no país – nos mostra que as carnes de qualidade despertam interesse no mercado brasileiro, desde que sejam acessíveis em termos de custo.”

Além das instituições de pesquisa, participam do projeto empresas brasileiras, como Polinutri e Neogen, e estrangeiras, como Biomar (Noruega), Veramaris (Países Baixos) e AquaHana (Estados Unidos). Entre os órgãos governamentais envolvidos estão o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag) e a APTA.

O Programa Ciência para o Desenvolvimento prevê um modelo de financiamento tripartite. A FAPESP fará um aporte de R$ 3,7 milhões e um valor econômico e financeiro equivalente deverá ser investido pelas empresas parceiras (cerca de R$ 5 milhões). A contrapartida das instituições acadêmicas será na forma de infraestrutura física e de salários para os pesquisadores e técnicos envolvidos no projeto.

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