Simulação científica sugere que óleo que contamina NE foi lançado em águas internacionais

Fonte: O GLOBO

Óleo contamina foz do rio Vaza-Barris e a praia do Viral, em Aracaju Foto: Márcio Garcez / Agência O Globo

RIO — Simulações computacionais preliminares realizadas por cientistas do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) sugerem que o óleo que atinge nove estados do Nordeste pode ter sido lançado ao mar em águas internacionais, a até mil quilômetros do litoral brasileiro.

Ele teria então viajado inicialmente pela Corrente Sul Equatorial, uma colossal corrente oceânica, que o espalhou por uma vasta área. De lá, foi trazido até as praias nordestinas pela Subcorrente Corrente Norte do Brasil (SNB).

Correntes marinhas são como rios de volume muitas vezes superior ao do Amazonas que fluem pelos oceanos. A SNB foi descoberta há menos de 30 anos pelo professor de oceanografia da USP Ilson da Silveira, que, com os alunos de doutorado Dante Napolitano e Iury Simões, realizou a simulação do espalhamento do óleo.

A SNB alcança uma velocidade cem vezes superior à do Rio Amazonas. Ela flui sobre a plataforma continental, numa distância entre cinco e dez quilômetros da costa.

O gigante Amazonas é um nanico perto dessa corrente: o rio tem vazão de cem mil metros cúbicos de água por segundo; já a SNB tem 35 milhões de metros cúbicos por segundo, ou seja, equivale a 35 rios Amazonas.

É uma corrente de 120 quilômetros de largura por 1.200 metros de profundidade. Para Silveira, o óleo foi trazido até a costa por ela, uma espécie de afluente da Sul Equatorial.

— Ficamos intrigados com a distribuição das manchas e fizemos simulações bem simples para entender o que poderia ter ocorrido. Pelo tamanho do espalhamento, fica  claro que o óleo foi levado pela Corrente Sul Equatorial, em águas internacionais, a centenas de quilômetros de costa — explica Ilson da Silveira, considerado uma das maiores autoridades mundiais em correntes atlânticas.

Ele diz que uma possibilidade é que o vazamento tenha ocorrido na latitude de Recife, mas já fora das águas brasileiras, entre 800 e 1.000 quilômetros da costa.

— Se fosse mais próximo, muito provavelmente não teríamos o espalhamento para o norte e para o sul, que temos visto ocorrer — observa ele.

O cientista considera improvável que o óleo desça além da Bahia. Porém, podem chegar ainda mais ao norte.

A amplitude da distribuição do óleo e a distância da Corrente Sul Equatorial do litoral brasileiro sugerem que o vazamento possa ter ocorrido até quase um mês antes das primeiras manchas serem descobertas.

— Pelas simulações que fizemos, a SNB é a responsável pelo óleo ter atingido tantas praias — diz ele.

Os cientistas, porém, dizem que é precipitado afirmar se foi apenas um vazamento, se ele foi contínuo, se cessou ou se acontece em pulsos.

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