Arquipélago dos Alcatrazes guarda muitas descobertas para a ciência

Fonte: AUN - AGÊNCIA UNIVERSITÁRIA DE NOTÍCIAS

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Palco de possíveis descobertas, a beleza cênica de Alcatrazes impressiona. Imagem: Paulo Vitale/ Veja.

Na plataforma continental do Estado de São Paulo, a 45 quilômetros de São Sebastião, há um conjunto de ilhas que formam o Arquipélago dos Alcatrazes. Transformado em Refúgio de Vida Silvestre em 2 de agosto de 2016 pelo então presidente interino, Michel Temer, essa unidade de conservação (UC) é a única de proteção integral do litoral norte paulista, junto com a Estação Ecológica (Esec) Tupinambás, também pertencente ao arquipélago. 

Juntas, essas UCs somam cerca de 1.300 espécies descritas de flora e fauna e Alcatrazes as preserva de forma surpreendente. “Isso é interessante pois é uma área localizada próximo a regiões fortemente urbanizadas nas áreas mais ricas e industrializadas do país. Possui, ainda, um contingente importante de pesquisas de universidades públicas”, conta Tito Lotufo, professor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, que realiza pesquisas no local. 

Parte dos trabalhos realizados apontam descobertas. “Temos algumas coletas e já detectamos espécies novas de organismos crípticos [de difícil percepção] que não tinham sido descritos, mas que estão em processo de descrição”, revela Lotufo.

Pesquisas analisaram seres que vivem escondidos

A equipe comandada pelo professor do IO possui projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os trabalhos incluem levantamento da biota críptica, ou seja, dos animais que vivem escondidos entre as pedras e/ou no interior de outros organismos. 

Para isso, foram instalados ARMS (Autonomous Reef Monitoring Strutures) ー estruturas de monitoramento utilizadas em vários ambientes recifais marinhos espalhados pelo planeta. As ARMS são decorrentes de um grande projeto administrado pela Smithsonian Institute, associado ao Museu Nacional de História Natural dos EUA.

“Elas ficam submersas mais ou menos um ano e ao final desse ciclo as recuperamos e processamos o material que vem nessas amostras”, explica Tito. “Esse processamento é feito em várias etapas, envolvendo fotografia, coleta de espécimes (amostras de material ou ser vivo) e a ideia é trabalhar as estruturas numa abordagem de metagenômica (material genético obtido por meio de amostras ambientais).”

Antes e depois de uma ARMS colocada em ambiente recifal. Imagens: Laetitia Plaisance/ Global ARMS Program.

O que foi detectado

Usando ferramentas convencionais em idas a campo como mergulhos e coletas de seres vivos, já foram detectadas algumas espécies que os pesquisadores supõem serem novas. Por ora, eles não podem afirmar o status das mesmas, pois precisam concluir as pesquisas. Apesar de que até agora não encontraram correspondência com nenhuma espécie que tenha descrição, sinal de ineditismo. 

“O que detectamos até agora está relacionado à classe das ascídias, grupo de invertebrados mais próximo dos humanos. Elas são muito interessantes, mas enfrentam muitas lacunas nos estudos globais de sua própria biodiversidade, por isso a importância de nosso estudo com sequenciamento de DNA a taxonomia [classificação]”, declara Lotufo. 

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Até agora, os pesquisadores estão trabalhando com a classe das ascídias. Imagem: Wikimedia Commons.

Importância marinha-ambiental

Tito Lotufo ressalta que entender um pouco mais as populações de organismos que vivem em Alcatrazes é muito importante para a biodiversidade marinha. “Tudo isso associado a uma riqueza que desconhecemos e não exploramos. Nossa grande expectativa é poder estudar e conhecer essa área que tem um potencial grande de novas espécies descritas.”

Esses estudos e novos registros ajudam a respaldar a própria necessidade da criação da UC, pois os elementos das descobertas de organismos interessantes podem auxiliar na compreensão da evolução, principalmente se forem novas espécies endêmicas, exclusivas da localidade. Além disso, esses organismos podem ser fontes importantes de novos compostos produzidos por eles ou em seus associados.

Novas espécies representam elementos da nossa biodiversidade que ainda vão ser descobertos e que tem um valor intrínseco e fundamental nas espécies diferentes das demais com características únicas.” 

Em dezembro de 2018, o arquipélago foi aberto pela primeira vez para visitação pública, que será monitorada por um ano e meio. Antes, apenas pesquisadores e a Marinha tinham acesso às ilhas, onde esta fazia treinamento de militares.

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Pássaro é visto próximo à ilhas do Arquipélago de Alcatrazes. Imagem: Wikimedia Commons.

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