Egressa do IOUSP pesquisa aquecimento global no Oceano Pacífico

Originalmente publicado em: CAPES. 04/05/2017.

Patrícia Eichler,  egressa do Instituto Oceanográfico da USP e atualmente professora filiada aos programas de pós-graduação em Ciencias Ambientais da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) e em Geofisica e Geodinamica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), foi uma das primeiras brasileiras a integrar o International Ocean Discovery Program e passou 63 dias a bordo do navio Joides Resolution (JR), no Oceano Pacífico, na Western Pacific Warm Pool (WPWP), ao norte da Austrália, para pesquisar sobre o aquecimento global. A partir dessa experiência, a pesquisadora foi convidada para continuar seus estudos, na Universidade de Texas AM, em College Station/EUA, ocasião na qual avaliará a assinatura das massas de água no sedimento do fundo do mar.

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Patrícia Eichler preparando as amostras a bordo do Joides Resolution (Foto: Arquivo Pessoal)
“Trabalho com indicadores ambientais marinhos e recentes que fornecem base para estudos atuais e passados da climatologia. Durante o embarque no Joides Resolution, minha expertise contribuiu para o conhecimento da microfauna de foraminíferos bentônicos, que são organismos unicelulares capazes de diagnosticar diferentes subambientes. O JR, navio que perfura a terra para descobrir novas fronteiras na ciência, recuperou 7 km de testemunhos de sedimentos marinhos antigos que foram coletados durante 63 dias,” conta.

“Quando estamos a bordo do navio, nós analisamos apenas uma parcela das amostras, os chamados ‘core catchers’ que constam de uma amostra que é coletada no final do testemunho de 10 metros e que é imediatamente processada por nós, os micropaleontologistas, que trabalhamos com foraminíferos bentônicos, planctônicos e nanofósseis para estimar a idade geológica e o ambiente o qual está sendo perfurado. Fui convidada para dar continuidade à análise desses testemunhos na Universidade do Texas, em junho, também com financiamento da CAPES”, explica Patrícia.

Experiência a bordo
Para Patrícia, a experiência foi enriquecedora. “Foi bom para as relações interpessoais e profissionais. Eu, sendo a única brasileira da expedição, necessitei comunicar-me 24 horas por dia em inglês e fazer relatório das minhas atividades realizadas nas 12 horas anteriores, além de colaborar com pesquisadores de alto renome internacional. Os cientistas com os quais colaborarei nos próximos 10 anos são pessoas que conheci nesse embarque. São pesquisadores com artigos publicados em Revistas Nature e Science, sendo as pessoas de maior competência em suas áreas. Também apresentei oito seminários que envolveram escolas particulares e congressos brasileiros mostrando, ao vivo, o que estava acontecendo no navio com chances de interação entre os alunos e os pesquisadores a bordo.” Uma publicação com dados preliminares obtidos a bordo já está disponível.

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Pesquisadores na hora do café da manhã à bordo do navio (Foto: Arquivo Pessoal)

Expectativas
Para a pesquisadora, os objetivos e expectativas estão de acordo com o esperado. Patrícia considera, ainda, que o projeto tem futuro promissor com o estreitamento de relações profissionais nos EUA, Inglaterra e França, além de excelentes colaborações com a China e o Japão. “O material e as relações pessoais e profissionais iniciadas a bordo do navio irão gerar trabalhos, colaborações futuras e publicações com excelente qualidade. Os estudos são totalmente sinérgicos e evoluem para pontos em comuns para o estudo da variabilidade da região da WPWP e a climatologia. O estágio sênior financiado pela CAPES foi de inestimável importância nessa área estratégica que é a exploração do mar profundo.”

Patrícia complementa dizendo que o Brasil ainda precisa crescer no palco da pesquisa. “A ciência no Brasil ainda é ínfima, com menos de 1% da população com grau de doutorado, e, assim mesmo, com poucas chances de absorção no mercado e nas universidades. A pesquisa brasileira é realizada ainda por poucos que conseguem transmitir com qualidade os resultados de suas pesquisas.”

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Foraminiferos Bentonicos coletados em um recife de coral submerso há mais de 2 mil metros de profundidade (Imagem: Arquivo Pessoal)

Sendo assim, a bolsista espera chegar ainda mais longe. “Minha experiência no navio me ensinou o quão pouco eu sei e o quanto ainda preciso aprender para poder chegar perto do que seja uma pesquisa integrada com excelente qualidade científica e com tamanho comprometimento em descobrir acontecimentos passados em eras geológicas antigas glaciares ou não. Nesse sentido, acredito que, com os resultados, poderei contribuir com a pós-graduação brasileira apresentando novidades aos alunos e proporcionando a ampliação de novas colaborações com o objetivo de internacionalizar áreas importantes e estratégicas da ciência marinha e geológica, incluindo a biodiversidade e aspectos físicos e químicos integrados de áreas inóspitas e remotas que são as profundezas dos oceanos e a história escrita e descoberta nos sedimentos antigos marinhos.”

IODP
International Ocean Discovery Program (IODP) é um programa internacional de pesquisas marinhas, que visa investigar a história e a estrutura da Terra, a partir do registro em sedimentos e rochas do fundo do mar, e monitorar ambientes de sub-superfície. O programa reúne parte significativa da comunidade científica atuante nas ciências do mar em águas profundas de diversos países.

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Nascer do sol na Nova Guiné (Foto: Arquivo Pessoal)

Para alcançar seus objetivos, usa avançada tecnologia em perfuração oceânica como instrumento essencial para novas descobertas, permitindo a disseminação de dados e amostras a partir de arquivos globais, particularmente para os países membros do Programa.

O sistema de perfuração é apoiado por um parque analítico a bordo do Navio de Pesquisa Joides Resolution, composto por equipamentos de última geração voltados a pesquisa geofísica, geoquímica, microbiológica e paleoclimática. Além da infraestrutura a bordo, o IODP conta com apoio de numerosas instituições de pesquisa e formação de recursos humanos nos diferentes países que atualmente compõem o Programa.

Desde 2013, o Brasil, por meio de financiamento viabilizado pela Capes, é membro do consórcio Joides Resolution e colabora com o Programa IODP.

Atualmente, a participação do Brasil prevê uma vaga em cada expedição no Navio de Pesquisa do Joides Resolution (até 2 vagas podem ser disponibilizadas dependendo da demanda); utilização por parte de brasileiros de amostras previamente coletadas de programas anteriores como o Deep Sea Drilling Project (DSDP) e do Ocean Drilling Program (ODP) e atualmente coletadas pelo Programa IODP, por meio da preparação da “Sample Request” com suporte do Comitê Cientifico do Programa no Brasil; um membro no “Facility Board” do Navio de Pesquisa Joides Resolution; um representante brasileiro no “Scientific Evaluation Panel” (SEP) do IODP; e um representante brasileiro no Subgrupo “Site Survey” do SEP/IODP.

(Natália Morato)

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