Uma das características mais marcantes do oceano profundo é a pequena disponibilidade de alimentos para a fauna. No entanto, tais regiões podem ser pontuadas por verdadeiros oásis onde o alimento é abundante e a biomassa maior. Além de fontes hidrotermais e exsudações frias, grandes parcelas de alimento que caem da superfície como um maná dos céus são colonizadas por uma fauna abundante e endêmica que pode apresentar uma série de novidades evolutivas.

        Carcaças de baleia, por exemplo, podem abrigar grande quantidade de organismos que produzem matéria orgânica na ausência de luz (quimiossíntese) e vivem em simbiose com vermes comedores de ossos. Os vermes anelídeos podem se alimentar de lipídios e colágeno de boa qualidade presentes nos ossos de baleia, numa estratégia única de vida. Além das carcaças outros tipos de fontes com grande aporte de material orgânico podem chegar à grandes profundidades no leito marinho, e uma das fontes muito estudadas nesse projeto foram parcelas de madeiras. Algumas árvores após cairem podem ser levadas através dos rios até os mares, a partir daí elas devem boiar até ficarem completamente enxarcadas e afundarem, se tornando um alimento importante no fundo marinho. 

 Osso de baleia jubarte (à esquerda) e madeira (à direita) implantados no Oceano Atlântico Sudoeste profundo pelo Projeto BioSuOr. Nas imagens é possível ver anelídeos da família Hesionidae colonizando a região interna do osso e também bivalves da família Xylophagidae colonizando a madeira. 

        O Projeto BioSuOr é financiado pela FAPESP e usa estruturas conhecidas como “landers” para a realização de experimentos de colonização em ossos e parcelas de madeira no mar profundo. A intenção é fazer comparações batimétricas,  regionais e entre bacias oceânicas da fauna e suas relações biogeográficas. Os dados coletados no Atlântico Sudoeste profundo ao largo da costa sudeste-sul brasileira estão sendo comparados com seu projeto irmão que está sendo realizado no Pacífico Nordeste profundo ao largo da costa do Estado de Washington, EUA. Outros dados provenientes do Atlântico Norte e do Mar de Weddell permitem uma ampla comparação em diferentes bacias oceânicas que estão ligadas pelas correntes marinhas profundas.

 As imagens na parte superior mostram um lander sendo preparado para o lançamento no navio (à esquerda) e outro lander no leito marinho (à direita), fotografado através de um veículo submersível. Na figura inferior os pontos são as estações onde os landers foram colocados, porém infelizmente o lander colocado no ponto vermelho não foi recuperado.

        Além dos 6 landers presentes no planejamento inicial, o projeto inclui também dados da primeira carcaça de baleia natural encontrada no Oceano Atlântico e um outro lander colocado próximo da região de Santa Catarina à 550 m de profundidade. Esse último lander foi recuperado à bordo do Alucia, permitindo uma visita até o nosso experimento com submersíveis.  

        O projeto inclui pesquisadores do Instituto Oceanográfico e Instituto de Biociências da USP, da Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade do Havaí e Universidade Auburn nos EUA.

        Confira também os Resultados, Fotos e Vídeos do Projeto BioSuOr.

Biomassa: Massa total de matéria orgânica viva.

Fontes hidrotermais: Ambientes onde há escapes de gases quentes relacionados a atividades vulcânicas no fundo marinho.

Exsudações frias: Ambientes em que há liberação de oléos e/ou gases, provocada por fissuras no solo devido à atividades tectônicas.

Fauna endêmica: Fauna exclusiva de determinada região.

 Simbiose: Associação entre dois organismos, na qual ambos recebem benefícios.

 Comparações batimétricas: Comparações entre diferentes profundidades.